Muito é dito sobre o uso inadequado da tecnologia, principalmente no que diz respeito à parte visual. Mas será que de fato o uso do uso contínuo do tablet e smartphones e afins podem causar danos à visão? A oftalmologista Dra. Keila M. Carvalho responde a algumas perguntas que podem esclarecer as dúvidas de muitas pessoas.


O uso prolongado de aparelhos como tablets e smartphones podem causar problemas de visão? Por quê?
Nos últimos anos, tem havido uma crescente popularidade dos tablets, com destaque para os com tela de tinta e o outro com tela comum. Os aparelhos com tinta possuem geralmente um sistema muito limitado, que não podem rodar softwares complexos e nem jogos, e se destinam quase que exclusivamente à leitura de livros. Deste grupo o mais popular é o Kindle da Amazon. Já os tablets com tela comum são utilizados para navegar na internet, jogos e utilizar programas complexos, como os usados para mostrar documentos de texto, planilhas eletrônicas etc. Deste grupo os mais populares são o iPad e o Samsung Galaxy Tab.

A capacidade de adaptar o tamanho da fonte também pode abrir oportunidades de leitura para pessoas com deficiência visual ou baixa visão.

Embora tenha sido aceito que a leitura em telas eletrônicas é lenta e associada à fadiga visual, esta nova geração está explicitamente propensa a usar esses dispositivos para leitura. Pesquisas mostraram que, em comparação com as telas eletrônicas, a leitura em papel é mais rápida e exige menos fixações por linha. Neste caso, seria de esperar efeitos diferenciais quando se compara o comportamento de leitura em telas dos tipos e-Ink e LCD. Mas os estudos mostraram que nos dois displays (tablets com tela de tinta e os LCDs) a leitura sobre estes tipos de exibição foi muito semelhante em termos de medidas subjetivas e objetivas.

Em relação aos problemas visuais, podemos considerar o cansaço visual resultante do uso contínuo e sem observação das necessidades ergonômicas


Assim como ocorre com o computador, o uso prolongado destes equipamentos pode levar a problemas como síndrome do olho seco, fadiga e irritação nos olhos? Por que isso acontece?
Muitos trabalhos têm demonstrado que o uso de terminais de vídeo (computador e outros) está associado a sintomas de cansaço visual e diminuição da taxa de piscamento. O uso de telas antirreflexo no monitor previnem a propagação da luz a partir da superfície da tela e daí não ocorre essa redução do piscamento, dando menos sintomas. Quando se pisca menos, acontece a diminuição da lubrificação natural levando à chamada “síndrome do olho seco”.


Existe algum exercício a ser realizado durante as pausas para lubrificar os olhos?
O piscar voluntário deve ser recomendado, assim os efeitos da diminuição do piscamento ficam minimizados e evita-se o olho seco.


Utilizar estes equipamentos no escuro pode prejudicar a visão?
Baixos níveis de fluxos de luz ambiental criam condições inadequadas de visualização e também podem causar fadiga ocular. Pode ser atribuído a variações no estado de adapta- ção à intensidade da luz, que ocorre quando o leitor desloca o olhar de forma intermitente entre o monitor mais brilhante e o escuro ambiental. Para melhorar esta situação, sugere-se que a pessoa aumente a iluminação ambiente para minimizar as diferenças de adaptação do olho, reduzindo, potencialmente, a fadiga visual. A sugestão é uma luz ambiente entre 75-150 lux no caso dos LCDs típicos. O uso de LCDs com baixa refletividade e com maiores índices de luminância inerentes pode proporcionar melhoria das condições de visualização, resultando em ergonomia nas leituras em vídeos.


Para não prejudicar a visão, que cuidados devem ser tomados na hora de usar estes aparelhos (distância para leitura, tempo de utilização e de pausa, posição em que o aparelho deve ficar em relação aos olhos)?
Em uma série de experimentos com pessoas de visão normal, o desempenho foi consistentemente melhor com polaridade positiva (texto escuro em fundo claro) do que com displays polaridade negativa (texto claro sobre fundo escuro). Esta vantagem da polaridade positiva foi independente da iluminação ambiente (escuridão versus iluminação típica de escritório) e de cromaticidade (preto e branco versus azul e amarelo).


Em pesquisa, foi avaliado o efeito da distância de visualização em relação ao desconforto e fadiga. Concluiu-se que os problemas na visão de longe foram um pouco menores que em distância próxima. Além disso, foi encontrada falta de corre- ção refracional, podendo ocasionar mais desconforto ocular principalmente em pessoas que já tem algum distúrbio de motilidade ocular, como pequenos desvios dos olhos.

A distância de visualização da tela ideal é relacionada à acuidade visual do usuário. No caso da pessoa usar óculos, sabemos que, como cada grau tem seu comprimento focal, o alcance de visualização do vídeo vai depender dessas condições ópticas. Para pessoas com visão normal, recomenda-se que mantenha um espaço confortável, entre 33 cm e 40 cm. Se a pessoa tiver baixa visão, este intervalo vai mudar de acordo com os óculos que utiliza. À posição dos olhos em relação à tela, considera-se ideal a pessoa olhar ligeiramente para baixo, com ângulo de cerca de 20 graus.

O uso destes aparelhos em um veículo em movimento como carro ou metrô pode levar a problemas de visão? E durante a prática de atividade física (na esteira, por exemplo) causa algum mal à visão?
O enjoo com leitura em veículos em movimento ocorre por características pessoais e não ligadas ao tipo de leitura. Pode ocorrer tanto quando se lê em papel como em tablets, com telas de tinta ou LCDs. Já durante a atividade física, não é recomendado de maneira alguma, principalmente porque ao ler a pessoa não consegue manter a postura adequada levando a possíveis problemas e dores daí decorrentes. Não há benefício algum em ler durante a atividade física, ao contrário, este é um momento especial para o descanso mental.


Sobre os displays em 3D
O aumento recente do uso de displays estéreos (3D) tem sido acompanhado por preocupação pública sobre os potenciais efeitos adversos, associados com a visualização prolongada de imagens estéreis. Existem inúmeras fontes potenciais de efeitos adversos, mas uma das principais é o conflito da acomodação-convergência nos displays, que afetam o conforto visual gerando fadiga ocular. Acomodação e convergência binocular são fatores predominantes que ocasionam astenopia (cansaço visual), após a visualização de telas 3D.

Visualização em 3D estereoscópico proporciona maior imersão, mas também pode levar a sintomas de enjoo com o movimento. Jovens espectadores incorrem em maior imersão, mas também maiores sintomas de náuseas com o movimento em visualização 3D, o que poderá ser reduzido se distância e ângulo de visões maiores forem adotados.


fonte: http://www.cbo.com.br/novo/geral/pdf/revista-03.pdf